Havia um menino /Fernando Pessoa
Havia um menino
que tinha um chapéu
para pôr na cabeça
por causa do sol.
Em vez de um gatinho
tinha um caracol.
Tinha o caracol
dentro de um chapéu ;
fazia-lhe cócegas
no alto da cabeça.
Por isso ele andava
depressa, depressa
p’ra ver se chegava
a casa e tirava
o tal caracol
do chapéu, saindo
de lá e caindo
o tal caracol.
Mas era, afinal,
impossível tal,
nem fazia mal
nem vê-lo, nem tê-lo :
porque o caracol
era do cabelo.
Les bulles de savon que cet enfant
S’amuse à tirer d’une paille
Sont translucidement toute une philosophie.
Claires, inutiles et passagères comme la Nature,
Amies des yeux comme des choses,
Elles sont ce qu’elles sont
Selon une précision rondelette, aérienne,
Et personne, pas même l’enfant qui les abandonne,
Ne prétend qu’elles sont plus que ce qu’elles semblent être […]
Fernando Pessoa, « (Alberto Caiero), Le Gardeur de troupeaux », Œuvres poétiques, Bibliothèque de la Pléiade, 2001, p 26
Poème proposé par Mme Fabienne Granier